As forças de Israel cercaram mais dois hospitais na Faixa de Gaza neste domingo (24), informou o Crescente Vermelho, o braço da Cruz Vermelha em países islâmicos —o Al-Amal e o Nasser, ambos na cidade de Khan Younis, ao sul do território.
Israel argumenta que seu Exército mira “infraestruturas terroristas” usadas como ponto de encontro para os homens do Hamas em Khan Younis, sem mencionar hospitais. O Hamas nega o uso de centros de saúde para fins militares e, por sua vez, acusa Tel Aviv de crimes de guerra contra alvos civis.
De acordo com Tel Aviv, os dois hospitais em Khan Younis abrigam bases e armas do Hamas, mas tanto a facção terrorista quanto os médicos negam a alegação.
Segundo o Crescente Vermelho, um de seus funcionários foi morto quando tanques israelenses repentinamente avançaram para áreas ao redor dos hospitais Al-Amal e Nasser, em meio a intenso bombardeio das forças de Israel.
Blindados israelenses isolaram o hospital Al-Amal e realizaram extensas operações de demolição em suas proximidades, disse o Crescente Vermelho, acrescentando que todas as suas equipes no local estavam em perigo e completamente imobilizadas.
Ainda de acordo com o Crescente Vermelho, Israel exige que funcionários, pacientes e deslocados pela guerra que estão abrigados no Al-Amal deixem o local —para expulsar as pessoas, o Exército estaria lançando bombas de fumaça.
Moradores de Khan Younis também relataram que tanques israelenses avançaram em um bairro perto do hospital Nasser. Israel não respondeu às alegações, que não puderam ser verificadas de forma independente pela agência de notícias Reuters.
Em uma visita a Cairo, no Egito, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou neste domingo que “é necessário que Israel elimine os últimos obstáculos e estrangulamentos à ajuda” à Faixa de Gaza, ameaçada pela fome.
“Olhando para Gaza, quase parece que os quatro cavaleiros [do Apocalipse], guerra, fome, conquista e morte, estão galopando por ela”, afirmou Guterres. “O mundo inteiro reconhece que é hora de silenciar as armas e garantir um cessar-fogo humanitário imediato.”
Ainda de acordo com ele, a única forma eficaz e eficiente de entregar mercadorias pesadas para satisfazer as necessidades humanitárias de Gaza é por terra e inclui um aumento exponencial nas entregas comerciais.
Ele também alertou para o impacto que a guerra em Gaza estava a ter em todo o mundo. “O ataque diário à dignidade humana dos palestinos está criando uma crise de credibilidade para a comunidade internacional.”
No dia anterior, Guterres visitou a passagem de Rafah, porta de entrada para o território palestino, e reiterou o seu apelo a um cessar-fogo imediato para aliviar a situação das crianças, mulheres e homens palestinos que lutam para sobreviver ao “pesadelo” em que se encontram Gaza. Ele disse que a fila de caminhões com mantimentos bloqueados na entrada era uma “ofensa moral”.
Os ataques a hospitais são uma das principais guerras de narrativa do conflito. O Al-Shifa é um exemplo. O hospital —uma das poucas instalações de saúde parcialmente operacionais no norte de Gaza, após quase todas as outras colapsarem por escassez de suprimentos e falta de condições de trabalho devido aos combates— foi atacado pelas forças israelenses em novembro do ano passado, e novamente nesta semana. Não estão claras as motivações para o retorno das forças.
O Estado judeu diz ter matado até agora mais de 170 terroristas na incursão recente ao Al-Shifa. A facção terrorista, por sua vez, nega que o local abrigue combatentes ligados a ela, e diz que os mortos na operação desta semana eram pacientes feridos e palestinos deslocados que viviam ao redor do complexo hospitalar. Afirma ainda que os enfrentamentos estão acontecendo nas imediações do hospital, e não dentro.
Os moradores dos arredores confirmam essa versão, relatando que as forças israelenses explodiram dezenas de casas e apartamentos nas ruas próximas ao hospital e destruíram rodovias.