Força econômica de Santa Catarina ao longo de séculos, o engenho de farinha artesanal guarda a história do trabalho em épocas pré-industriais. Em uma entrevista exclusiva, o proprietário de um desses engenhos, Jorge Luiz da Silveira, compartilhou detalhes sobre seu engenho, em Florianópolis. Ainda, o portal ND Mais conversou com o historiador Rodrigo Rosa da FCC (Fundação Catarinense de Cultura) sobre a história desses empreendimentos no Estado.
Tradição do engenho de farinha artesanal
Jorge Luiz explicou que a motivação por trás do seu projeto é conservar a tradição, algo que sempre foi um sonho pessoal. “Eu tinha um sonho de ter um engenho, para manter a tradição”.
Ao ser questionado sobre as dificuldades encontradas durante a montagem do engenho, ele destacou a escassez de especialistas na região.
“Tem muito problema, e um é encontrar uma pessoa que faça. Tem uma dificuldade grande, porque dentro da Ilha [de Santa Catarina, isto é, Florianópolis], tem só uma pessoa que sabe fazer tudo isso daqui”, afirma Jorge.
Como funciona o engenho
Sobre o funcionamento do engenho, Jorge Luiz compartilhou informações sobre o cuidado com os bois utilizados no processo. “A gente coloca esse tampão no olho do boi, para ele não ficar tonto e perdido. A gente também não deixa ele ficar muito tempo, de meia em meia hora a gente troca os bois pra eles não cansarem. Geralmente eles são bem mansinhos”.
Veja o vídeo:
Importância Histórica
O historiador Rodrigo Rosa, da FCC, contou a história dos engenhos de farinha em Santa Catarina, destacando sua importância desde a chegada dos açorianos no século XVIII até os dias atuais.
Rodrigo aponta que “o grande fluxo migratório açoriano no século XVIII marcou o surgimento dos engenhos na Ilha de Santa Catarina. Os açorianos, ao chegarem, trouxeram consigo a prática do consumo e manufatura da farinha, transformando-a em um produto fundamental na região”.
“A introdução da tecnologia dos engenhos representou, segundo alguns autores, o primeiro processo de industrialização no Brasil, ocorrendo na metade do século XVIII”, diz o historiador.
A produção da farinha de mandioca se tornou a principal indústria, movimentando a economia de Santa Catarina por quase dois séculos.
Desafios
Sobre os desafios enfrentados pelos trabalhadores dos engenhos, Rodrigo destacou as condições rudimentares das estruturas, inicialmente feitas de estuque, pau a pique, barro e bambu.
A introdução da força motriz animal, especialmente a dos bois, foi um marco na evolução tecnológica dessas instalações.
A economia de Santa Catarina, que inicialmente limitava-se ao litoral, experimentou uma transformação significativa com a ascensão dos engenhos.
A farinha de mandioca produzida tornou-se um produto de exportação crucial, abastecendo cidades como Montevidéu Colonial, Buenos Aires, Portugal Continental e até mesmo na América do Norte.
Rodrigo explica que, ao longo do tempo, mudanças sociais, avanços tecnológicos e a busca pela modernidade levaram ao declínio dos engenhos de farinha artesanal.
A partir dos anos 1960 e 1970, a resistência ao que era considerado antigo e a introdução de tecnologias mais avançadas levaram à diminuição da importância dos engenhos.
Somente nas décadas de 1980 e 1990, alguns engenhos foram redescobertos como elementos históricos e etnográficos.
Segundo Rodrigo, atualmente, a Fundação de Cultura está em processo de reconhecimento dos engenhos como Patrimônio Cultural Imaterial de Santa Catarina. A certificação está em andamento.
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