Uma briga histórica ganhou novos tons com episódios
ocorridos nas últimas semanas: a disputa do Reino Unido e da Argentina pelas
Ilhas Malvinas.
Tudo começou em fevereiro, quando o ministro das Relações
Exteriores britânico, o ex-premiê David Cameron, visitou o arquipélago.
Na Argentina, onde tanto a esquerda quanto a direita reivindicam soberania sobre as Malvinas, o passeio não pegou bem: dias depois, a chanceler do governo Javier Milei, Diana Mondino, se reuniu com Cameron, durante o encontro dos ministros das Relações Exteriores dos países do G20 no Rio de Janeiro.
Em nota, o ministério argentino afirmou que Mondino “expressou
descontentamento com suas declarações [de Cameron] e sua visita às Ilhas
Malvinas, após o qual reafirmou os direitos de soberania da República Argentina
na questão das Ilhas Malvinas e reiterou a disposição do seu país de resolver a
disputa de acordo com o mandato da comunidade internacional”.
Também em comunicado, a chancelaria britânica rebateu, ao
apontar que nesse encontro Cameron “reiterou o apoio contínuo do Reino Unido ao
direito à autodeterminação dos habitantes das Ilhas Malvinas”. “Contudo, [os
dois ministros] observaram que isto não impediria a cooperação em áreas que
seriam mutuamente benéficas”, pontuou.
O arquipélago sul-americano, sobre o qual o Reino Unido tem
soberania, motivou uma guerra entre os dois países em 1982.
Em um referendo realizado em 2013 com habitantes das Malvinas, 99,8% dos moradores do arquipélago disseram que preferiam que este mantivesse o status de território ultramarino britânico.
Megaporto
Outros ingredientes além da visita de Cameron motivam a
crescente insatisfação argentina. No início de março, a empresa norte-irlandesa
Harland & Wolff anunciou que venceu a licitação para construir um novo
porto nas Malvinas, num contrato avaliado entre 100 e 120 milhões de libras
(entre R$ 630 e 755 milhões).
A Argentina critica a obra, que será um forte concorrente do
porto argentino de Ushuaia, localizado na província da Terra do Fogo, Antártida
e Ilhas do Atlântico Sul.
Buenos Aires também ficou incomodada com a recente expansão,
em 166 mil quilômetros quadrados, das zonas de pesca proibida em torno das
ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, também localizadas no Atlântico sul.
Segundo o jornal Clarín, os dois assuntos e a recente visita de Cameron às Malvinas foram temas de uma reunião no último dia 11 entre a embaixadora do Reino Unido na Argentina, Kirsty Hayes, o vice-chanceler argentino, Leopoldo Sahores, a secretária da Área Malvinas, Paola Di Chiaro, e a subsecretária de Política Externa da gestão Milei, Marcia Levaggi.
Para complicar a situação, quatro dias depois, Andrés
Dachary, secretário das Malvinas, Antártida, Ilhas do Atlântico Sul e Assuntos
Internacionais da província da Terra do Fogo, anunciou que o governo local
notificaria a Harland & Wolff “sobre sua intenção de avançar ilegalmente na
construção de um novo porto em nossa província sem autorização”.
Porém, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina
afirmou que tal notificação só poderia ser enviada pelo governo nacional.
Para não gerar dissabores com o Reino Unido e afastar
eventuais investimentos, o governo Milei tem adotado uma postura menos
agressiva do que gestões anteriores na reivindicação pelas Malvinas, o que tem
gerado insatisfação em alguns setores.
O governo da Terra do Fogo, de oposição a Milei, acusou o
novo embaixador argentino nas Nações Unidas, Ricardo Lagorio, de não colocar na
sua agenda a disputa com o Reino Unido sobre as Malvinas.
Além disso, o presidente recebeu críticas pela decisão de
cancelar o tradicional desfile dos veteranos da guerra de 1982, realizado
sempre em 2 de abril, com o alegado motivo de economizar recursos.
Embora não haja chance de um conflito armado como o de 42 anos atrás, o arquipélago segue sendo uma fonte de desconforto nas relações entre argentinos e britânicos, sem um apaziguamento definitivo no horizonte.
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