Chegamos a Barcelona, uma das mais belas, pulsantes e coloridas cidades do continente europeu. Contando com uma gastronomia incomparável, a cidade é quase um museu a céu aberto e, no centro desta verdadeira obra-prima da criação humana, encontra-se a igreja da Sagrada Família, lugar obrigatório para o visitante se deslumbrar com a obra arquitetônica de um dos maiores gênios da arquitetura universal, Antoni Gaudí.
A expectativa é grande, afinal, a Espanha tem sido palco das maiores manifestações racistas do futebol mundial, e o “Barça”, como se diz por aqui, é um dos principais clubes do país e um dos arquirrivais do Real Madrid, de Vini Jr., vítima constante dessas agressões.
A primeira impressão que se tem ao chegar ao aeroporto é a mesma de todas as cidades que passamos anteriormente: a diversidade de pessoas é uma marca do velho continente e, no caso de Barcelona, é difícil entrar na cidade sem contar, por exemplo, com o serviço dos paquistaneses – eles praticamente controlam o serviço de táxi no aeroporto, e a presença deles nos mercadinhos e lojas de souvenir é grande também.
Na chegada ao hotel, mais diversidade nos serviços. Na recepção, duas atendentes orientais, provavelmente tailandesas. Enfim, começamos a perceber a mesma realidade vista em outros países por onde passei, como Portugal, Bélgica, Alemanha e Luxemburgo, onde a mão de obra estrangeira é parte importante da economia.
E o racismo expressado nos estádios de futebol, seria somente relacionado aos negros? Para entendermos um pouco a questão racial neste canto do mundo, é importante também entender a questão étnica e política da região, onde o cidadão médio nativo primeiro se vê como catalão, e esse espírito nacionalista o faz pensar primeiro na Catalunha e depois em qualquer outra questão.
Neste contexto, outras lutas emancipatórias ganham mais importância entre os catalães do que a questão racial – por exemplo, a questão das mulheres, que vivem em uma sociedade historicamente machista, a dos homens catalães.
Isso fez surgirem leis mais avançadas com relação às mulheres comparadas com as voltadas para negros, por exemplo, o que nos ajuda a entender a punição exemplar ao jogador Daniel Alves e a queda de Luis Rubiales do cargo de presidente da Real Federação de Futebol espanhola, por assédio, na final da Copa do Mundo de futebol feminino, após dar um beijo na boca de uma jogadora sem o consentimento dela. Já no caso das manifestações racistas contra Vini Jr., pouco se tem feito.
Mas, na cidade que pulsa arte, diversidade e liberdade, é perceptível que há mais espaço para avanços no quesito inclusão do que no resto do país, como na conservadora capital Madri, que pude conhecer em outra oportunidade.
Chama também a atenção a representatividade populacional de seus habitantes: os estrangeiros já representam 25% da população e são oriundos principalmente de ex-colônias espanholas como Argentina, Colômbia e Peru, entre outras, o que causa um certo incômodo e protestos das alas mais conservadoras da política local, representada principalmente pela extrema direita e defensores aguerridos dos valores catalães – o que pode também explicar as manifestações nos estádios, uma junção de sentimentos racistas e xenofóbicos.
No mais, Barcelona caminha e pulsa como um dos lugares mais encantadores e bem preparados para receber o turista. E, quando se fala de racismo, aqui é comum se ouvir: “Como assim?! Abraçamos jogadores de diversas partes do mundo, incluindo negros, e uma das santas mais adoradas aqui é Nossa Senhora de Montserrat, a Virgem Negra”.
Enfim, qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.
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